INSTALAÇÕES PRECÁRIAS DE TERMINAIS
RODOVIÁRIOS DO MA É DESTAQUE NO JN
O Jornal Nacional iniciou nesta segunda-feira uma série especial sobre o universo dos terminais rodoviários e das viagens de ônibus pelo Brasil. Em mais de 6 mil quilômetros de viagens, os repórteres Rodrigo Alvarez, Wilson Araújo e Moisés Lima encontraram muitas instalações precárias, imundície, desconforto, desrespeito, mas também algumas exceções.
No lamento solitário, a melancolia
da rodoviária maranhense. Peritoró recebe os visitantes com uma montanha de
lixo e com a simpatia da vendedora Raimundinha.
“O cartão postal é a sujeira e a
lameira”, afirma a mulher.
Reze para não passar por um pátio
esburacado e ainda precisar de um banheiro.
“Não tem nada muito inteiro”, diz
um homem.
Ou de qualquer outro sanitário
pelos terminais do Brasil. O cheiro é terrível e os locais bem sujos.
A equipe do Jornal Nacional rodou
6,1 mil quilômetros. O gigantesco terminal que recebe mais de 60 mil pessoas
por dia em São Paulo foi o ponto de partida. Quinze dias e 15 estados, mais o
Distrito Federal. O grupo foi passageiro em ônibus de nove empresas.
Para mostrar o que brasileiros
enfrentam diariamente em ônibus, estradas, rodoviárias, paradas, a equipe viu
de tudo e descobriu que rodoviária, no Brasil, é loteria. Sem sorte, o
passageiro fica horas esperando por um ônibus atrasado em Rio Verde, em Goiás.
“Não tem uma polícia, não tem
guarda, não tem nada. Simplesmente os passageiros e o Cristo”, conta a
desempregada Josi Sales.
Com sorte, o passageiro chega a um
terminal ajeitado como o de Itajaí. O terminal é um dos mais limpos e a
chuveirada de R$ 9,45 uma das mais caras do Brasil. Mas como ninguém escolhe o
destino pela rodoviária, uma hora o passageiro embarca na maior confusão.
A equipe chegou à rodoviária de
Salvador por um dos acessos que os pedestres usam quando vão de ônibus à cidade
ou para a rodoviária. Eles fizeram no caminho o que a população enfrenta, o que
o usuário de ônibus enfrenta quando vai para a rodoviária a qualquer hora do
dia. Camelôs por todos os lados em uma das entradas principais da rodoviária de
Salvador.
Lá não tem luxo, nem muito conforto
e tem banheiro para deficiente, mas de porta trancada, o que obriga seu
Raimundo a pedir ajuda no banheiro comum.
“O rapaz falou que tinha a chave,
mas ele não tava aí. Não tinha ninguém”, diz um homem.
Nas capitais brasileiras, grande
parte das rodoviárias nasceu entre os anos 70 e 80, mas mesmo que tenham sido
belos projetos, envelheceram. Faltam investimentos em infraestrutura e
manutenção.
Em Florianópolis, no começo de
2012, uma canaleta caiu do teto no meio do terminal e deu um susto nos
passageiros. Em Belo Horizonte, o tempo e o vento fizeram toda a diferença. Era
para ser sinônimo de luxo e conforto para os passageiros, mas virou um
monumento estranho no meio da rodoviária de Belo Horizonte: escadas rolantes
desativadas há mais de 20 anos. Foi mantida toda a estrutura metálica, os
corrimões de borracha e os botõezinhos que um dia, muito tempo atrás, fizeram
com que as escadas funcionassem. E o prédio que agora tem goteira para todo
lado já ganhou prêmio de arquitetura.
Já a rodoviária de Porto Alegre
também mereceria um prêmio de arquitetura, no mínimo, pelo inusitado da
construção. O terminal gaúcho é de 1970. Para usar o único banheiro, que é de
graça, só fazendo peregrinação pelo meio dos ônibus.
De Porto Alegre a Brasília, foi um
dia inteiro na estrada e a sensação da equipe era de que a viagem foi para
outro Brasil. Eram 9h10 de uma manhã e o grupo se impressionou com a
rodoviária, bem diferente do que foi visto no resto do país. Alguns dizem que
certos aeroportos são tão ruins que parecem rodoviárias, mas a rodoviária é tão
moderna que é melhor que muito aeroporto.
A rodoviária nova de Brasília não é
só jovem, bonita e bem sinalizada. Tem carrinho de bagagem para todo mundo,
espaço de sobra e um cuidado que os passageiros merecem em qualquer lugar do
Brasil.
Por falta de ônibus em quantidade e
horários suficientes para atender às necessidades da população, o terminal
rodoviário de Santa Luzia do Pará acabou virando uma grande central de
transportes e o que mais tem não é ônibus.
“São R$ 35 para andar 200
quilômetros e deixar em casa, mas vai lotação. Vão outras pessoas junto, são
quatro. É o frete”, diz a motorista Ivonete Araújo.
A 200 quilômetros do lugar, uma
cidade com nome muito parecido: Santa Luzia do Paruá, no Maranhão. Depois de
tudo o que a equipe viu, só faltava uma rodoviária sem ônibus.
“Aqui passa ônibus, mas só não para
aqui. Não para na rodoviária. Não sei o porquê chama rodoviária, é só para
enfeitar. Suponho que seja, né?”, fala um homem.
Nota: Uma tarja da reportagem
exibida na TV dizia que Caxias ficava no Piauí. Na verdade, fica no Maranhão. A
informação foi corrigida no vídeo publicado nesta página.
Fonte: Blog de John Cutrim
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